Aula de Antropologia Visual - 08/10/2008



Questão da Beleza Feminina ao Longo do Tempo

Dentro da aula de Antropologia Visual de hoje, verificamos o quanto a beleza feminina é relativa, de acordo com época, período histórico, movimento artístico e influências dentro destes, ao longo dos tempos. Todas as anotações abaixo relacionadas, têm imagens associadas aos conceitos, o que facilita demais a nossa compreensão e ajuda muito a composição do texto.

Segue abaixo todo o conteúdo anotado durante a aula.

1. Nefertiti: o que faz com que ela seja bela?



Tratamos de questões não apenas palpáveis, mas sim abstratas. Dependendo da imagem, temos elementos diferentes a considerar. A grande arma das imagens é descobrir algo além do visível (devo depreender algo além).
Ela possui rosto simétrico e proporcional com harmonia entre as partes. A simetria traz estabilidade e harmonia. O pescoço é alongado por causa da coroa que complementa a imagem. Isso faz com que o peso visual seja o ideal, ela tem elegância.
Culturalmente, os egípcios antigos destinavam aos ornamentos um significado de posição de poder. Além disso, a maquiagem e os traços dos olhos determinam mais alguns fatores de beleza da época.

2. Kore (mulher grega):


rosto em consonância com a postura. A representação da postura rígida, assim como na Mesopotâmia e Egito. Postura austera, de maneira a não ter possibilidades de transformação da realidade existente. Postura imóvel, refletindo organização estável. Um mundo em mutação, mas com resquícios de outras civilizações. O retrato da mulher virtuosa, de classe alta (com muitos detalhes nas vestimentas, com sua indumentária mostrando sua posição social).

3. Venus ou Afrodite (Deusa Grega):


roupa reflete sensualidade do amor carnal e pode sugerir uma roupa molhada, pelos vincos que apresenta. Outro elemento, diz respeito a maçã em sua mão, que tem relação com a história do filho de Páris, segue abaixo resumo:

“Na mitologia grega, Páris era um dos mais novos filhos do rei Príamo de Tróia. Ele ainda estava saindo da adolescência quando foi escolhido pelas deusas Hera, Atena e Afrodite para eleger qual delas seria a mais bela. Cada deusa, buscando suborná-lo para ser eleita, prometeu-lhe riquezas e vitórias, mas somente Afrodite lhe garantiu que se casaria com a mulher mais bela do mundo se ele a escolhesse: a princesa Helena de Esparta. Então, Páris não hesitou e elegeu Afrodite como a mais bela das três despertando a ira de Atena e de Hera que enviaram seus exércitos gregos para destruí-lo e a Tróia.

Páris, com ajuda do deus Apolo, derrotou Aquiles que foi o mais forte e potente guerreiro grego daquela guerra, atingindo-lhe uma flecha no calcanhar, único ponto em que poderia matá-lo (vingando-se, assim, da morte de Heitor). Conhecido por ser um príncipe que valorizava e apreciava as mulheres, Páris acreditava que os únicos prazeres a que deveria dar algum valor eram os da carne. Entretanto, somente após uma visão atribuida a Apólo, Páris resolve batalhar de forma decisiva na guerra de Tróia.

Em um de seus últimos atos na guerra, Páris atacou Aquíles sem piedade, com seu arco e flexas, acertando-o no calcanhar com uma poderosa flecha de pontaria precisa. Após a queda de Tróia e o retorno de Helena para Menelau, Páris isolou-se para morrer, pois sofrera de graves lesões corporais (suspeita-se que sua morte tenha sido ocasionada pelo que nós conhecemos hoje em dia por tétano). Logo após, seu corpo foi encontrado no monte Ida.”

Seu rosto também belo, porém era parecido com o de outros deuses, como Ártemis e Apolo, até Deméter, deusa da colheita. O rosto dos deuses era parecido, para haver proporções entes as partes e o todo (harmonia). Harmonia esta retratada por Policleto, em seu Doríforo, introduzindo o conceito de cânone de beleza. Beleza ideal x beleza real, pois a população grega não era, no geral, como a retratada nas esculturas.

4. Boticelli (O Nascimento de Venus):



os cristãos na época medieval, com a queda do império romano do Ocidente, fizeram da mulher uma entidade até demoníaca por vezes. Mas havia representação, porém, não fiel à fisionomia delas, pois as imagens produzidas tinham caráter fundamentalmente didático.
O detalhe do rosto pode nos parecer estranho, se comparado com o conjunto entre pescoço, ombros e seios. Boticelli foi seguidor de um líder religioso da época, que achava as imagens imorais. Existem boatos que ele era homossexual também. Sendo assim, não retratou fielmente as proporções do corpo feminino nesta obra.
Em “Portrait of Cecilia Gallerani”, de Leonardo da Vinci:


a mão separada nos mostra modos, uma mulher de classe em seus gestos. Além de um rosto harmônico.

5. Michelangêlo (Pietá): expressão pouco exagerada, para demonstrar boas maneiras da época.


6. Rafaello Sanzio (Madonna of Belvedere): padrão da serenidade e um eixo vertical muito forte.


Ou seja, Boticelli tinha uma visão diferente da mulher da época.

7. Van Eyck: “O Casal Arnolfini”. O rosto, com um tom diabólico pelo cabelo. Esse padrão era considerado de beleza na época. Isso, no século XV, era moda: depilação de sobrancelhas, por exemplo. A indumentária também mostra poder.


Detalhe da mulher:


8. Hans Holbein: “Portrait of Anne of Cleves”, esposa do rei Henrique VIII (talvez esposa). Muitos adornos e enfeites, retratando sua posição na pirâmide social. Ou seja, a indumentária não retrata a beleza pela beleza somente. No contexto do período, este fator, bem como a forma com que a personagem é apresentada (mãos cruzadas e postura ereta), retratam a importância. Retrato do Protestantismo, em que os adornos e a figura, mesmo com importância, eram representados de forma mais discreta que nas Católicas.


9. Rubens: “Maria Pallavicino” tem outro retrato, porque está no reino de Flanderes, como o Catolicismo, mais ostentador que o Protestantismo, retratado no item anterior. Dentro de um contexto Católico, a imagem foi importantíssima. O Barroco, nos séculos XVII e XVIII, faziam uma grande campanha de marketing pelas imagens, apelando pelos sentidos. No quadro, há um papagaio. Animais tropicais na Bélgica, eram sinal de exotismo e status.


10. Caravaggio: pintor barroco italiano, mostrou St. Catherine de Alexandria. Dois objetos falam quem foi ela: a palmeira (sinal de martirização pela fé) e a roda. A roda foi utilizada para torturá-la. Em seguida ela foi decapitada. Logo após ter sua cabeça cortada, jorrou leite ao invés de sangue, de seu pescoço.


Caravaggio subverteu a ordem, era muito irônico. Pegava personagens sujos, deturpados e reproduzia tais características em outras personagens famosas. Nesta representação, ele não quis ostentar.

11. Rubens (novamente): nesta imagem, de uma personagem não-identificada, evidencia-se o branco das mangas, utilizado predominantemente pelos ricos, o tamanho das jóias, mostram que ela tem importância. Rubens também é do Barroco, era mestre do desenho Scorzo, que fazia com que a perspectiva ficasse deformada, como em “Raising of The Cross”.



12. Johannes Vermeer: estilo austero e discreto (afeito ao protestantismo), como “Moça com Brinco de Pérola”.


Maria Antonieta, com 15 anos foi para a França, como promessa de casamento.
Mudou seu figurino para cabelo acinzentado, pele muito branca e rosto rosado, com olhos claros, reproduzindo o estilo francês de beleza.


13. Jean Ingres, por sua vez: tinta a óleo, reproduziu, pela risca do cabelo, olhos grandes e curvados, mãos na imagem de Madame Antonia Devaucay, uma mulher serena.


14. Rosseti: reproduziu uma Venus mais sensual, com boca destacada, olhos mais expressivos e cores mais quentes, para mostrar sensualidade. A saturação das cores proporciona uma experiência sensorial, além do elemento flor (órgão sexual da planta).


Espero que todos tenham gostado. Até a próxima postagem, pessoal.







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