Resenha de filme - Escritores da Liberdade (2007)


Dentro da minha proposta de agregar valor ao curso de Design Digital, resolvi transcrever esta resenha, enviada para avaliação dos professores do curso, bem como também ao site http://guiadasemana.com.br/film.asp?ID=11&cd_film=1613, para ser publicada.
Acredito que o texto reflete fielmente a minha satisfação em ter assistido à esta obra, enfatizando que já era fã da Hilary Swank, desde "Meninos não Choram" e "Menina de Ouro".
"Há uma lógica cristã que explicita o seguinte: "não faça aos outros aquilo que você não gostaria que fizessem com você." A cada ação corresponde uma reação porém e, qualquer ser humano não tem o discernimento e a espiritualidade de um ser maior, por isso age intempestivamente contra aquele considerado oponente, seja por auto-defesa, afirmação ou intolerância. Sendo assim, não consegue trilhar o caminho dito ideal de convivência.
Dos três aspectos abordados acima, o filme analisa em pormenores a intolerância, gerada a partir da introjeção do conceito que há inferioridade arraigada na sociedade. Enquanto os brancos são considerados bem-sucedidos, detentores do saber e seres acima de qualquer suspeita, os demais (negros, hispânicos e asiáticos) são a escória, a exceção de uma regra ideal aos americanos: de uma família perfeita, com filhos perfeitos, direcionadores de seu caminho acadêmico precoce, já trilhado para o sucesso, graças à estabilidade que vivem.
Esse drama, vivenciado num ambiente escolar, tem como protagonistas alguns alunos da "Sophomore" da escola Wilson. Desacreditados em sua maioria pela direção, por alguns professores com características racistas e xenófobas, além de insseridos num conceito desagregador de família e constantemente afetado negativamente por diversas brigas de gangues, promovem a anarquia completa nas suas ações, além de uma desordem se precedentes.
Comparativamente falando, o advento da Senhora G (professora Erin na escola, foi como a aplicação do método Paulo Freire, porém com algumas diferenças: apesar de tentar adaptar o ensino às realidades dos seus alunos, encontrou um ambiente hostil, bem como também um grupo de pessoas que não são exatamente analfabetas, mas não conseguem ler e formular um senso crítico. Porém, foi mostrado um brilhantismo ímpar nesta empreitada, porque a realidade alheia abriu as mentes dos estudantes.
Como foi dito também durante o debate, não pode haver sucesso em um método que não permita o mínimo de envolvimento sentimental entre professores e alunos. Tudo aquilo que é extremamente linear e formal, é uma barreira e fomenta a antipatia.
Sendo assim, foi muito inteligente e importante da parte da senhora G, estimular as personagens a escrever todos os seus anseios, dúvidas e frustrações, reunindo-os em um diário. O clima de empatia e do importar-se com o próximo também teve como cenário no jogo proposto, que delimitou uma fronteira entre dois grupos distintos, quebrada conforme foram revelados os seus dramas em comum. E a imagem atônita de cada um deles, tendo que forçosamente encarar seu semelhante de etnia distinta, porém, respeitosamente, à medida que percebeu-se o relato de um problema tão ou mais grave que o seu.
O grande clímax do filme porém, dá-se a partir do momento que experiências traumáticas, externas aos estudantes, são colocadas como exemplos práticos sobre como aquilo considerado problema, na verdade é apenas um obstáculo temporário, mas que não intransponível, já que é algo reversível, nada em termos de um destino definitivo, um fato consumado. Ao passo que as agruras passadas durante o nazismo têm esta característica: muitos judeus, ciganos, deficientes e prisioneiros aliados, não tiveram a sorte de escolher um caminho transformador, sendo que a partir do momento que não foram considerados úteis à máquina de guerra (em trabalhos braçais), descartaram-nos pelo envio às câmaras de gás e experiências científicas cruéis.
Auschwitz e Treblinka, dois dos mais famosos campos de concentração usados na Segunda Guerra Mundial, bem como os guetos, forma as poucas testemunhas históricas do conceito da intolerância exacerbada e do processo de dilaceração da alma humana. A testemunha ocular descoberta em Anne Frank, assim como em outra personagem não retratada nesta história (Oskar Schindler), são para nós a prova que não há como existir somente o espectro do mal em acontecimentos traumáticos, mas sim exemplos de como a vida deve ser: um contínuo exercício do viver em coletividade, em harmonia, paz e justiça, independentemente de credo e raças.
Schindler aliás, mesmo infiltrado e membro ativo do Partido Nazista, usou este artifício para, às custas de muitos subornos e presentes caríssimos, destinados a oficiais inescrupulosos, construir sua fábrica de esmaltados, empregando muitos judeus ditos "condenáveis", salvando-os da morte certa. Mesmo sendo um bom-vivant inveterado, tendo diversas amantes, praticamente alicerçou sua ruína consciente por este fato: a generosidade.
Os "Escritores da Liberdade" tiveram na senhora G uma analogia à Anne Frank e Schindler, pois ela, mesmo sob o ceticismo e preconceito total atribuído ao seu grupo de alunos, desafiou a tudo e a todos, inclusive a seu relacionamento amoroso, para salvá-los e torná-los cidadãos conscientes de suas obrigações e potencial. Sendo assim, nesse belíssimo filme, tiveram a mais justa homenagem."

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