Elementos da Composição Visual - Aula de 24/09/2008

Elementos da Composição Visual


Esta aula, dentro da disciplina de Antropologia Visual, ministrada em 24/09/2008, apesar de densa e com muitos conceitos, foi muito importante para definirmos conceitos a respeito dos principais elementos de análise na composição visual: linha, superfície, volume, luz e cor.

O texto abaixo representa uma reunião de anotações feitas durante a aula.

São cinco elementos visuais que iremos estudar nesta aula:

Linha
Superfície
Volume
Luz
Cor

Palavras e elementos visuais não são iguais. Elementos visuais não têm significado pré-estabelecido, antes de entrar em um contexto formal. Depois em conjunto eles podem representar algo.
Cada elemento configura espaços de uma forma distinta um do outro. Ao caracterizarem um espaço, eles se caracterizam ao mesmo tempo.
Na arte, a combinação de dimensões é variável. Na arte, se revelam espaços vivenciais. Temos experiências a partir do que nós enxergamos. O homem descobre maneiras de representar algo bidimensional.
As dimensões espaciais são altura, largura e profundidade.

Linhas

O que faz uma linha em termos de estrutura espacial?
Ela configura um espaço linear. Ela possui dimensão única, ela sempre vai direcionar o meu olhar, como setas que direcionam minha visão. Quanto maior o intervalo entre linhas, mais devagar o ritmo do meu olhar. De acordo com a densidade, interrupção da linha, teremos uma certa dificuldade em segui-la. Quanto maior a velocidade, menor o peso visual. O espaço linear é frágil e unidimensional.
Qualquer composição linear terá caráter rítmico. Desenhos somente com linhas são mais leves. A linha muitas vezes nasce do poder de abstração da mente humana.
(Pesquisar Düher e Rembrandt, que compuseram magníficos desenhos com linhas, bem como Van Gogh)


Rembrandt – “The Three Crosses” (1653)

Ver a biografia de Rembrandt, que fez com que seus trabalhos ficassem mais densos, à medida que sua vida derivou para a crise, acessível resumidamente em http://pt.wikipedia.org/wiki/Rembrandt.
Paul Klee, de 1909, usa as linhas na mesma espessura, entrecortadas, sem uma fluidez: há obstáculos. Foi membro da Bauhaus, por convite de Walter Gropius, em 1920.

Paul Klee – Ancient Sound – Abstract on Black

Seb Jarnot, ilustrador, mostra leveza de linhas e fluidez, como no trabalho abaixo:


Uma superfície é distinta da linha: ela congela o tempo e o olhar naquele local. Se desenharmos um retângulo, as linhas têm um limite, o olhar limita-se.
As duas dimensões (altura x largura) delimitam um espaço sem tempo. Uma representação plana, um plano sobre plano trabalhado.
Quando consigo ter ritmo, usando superfícies? Se eu organizar superfícies de maneira rítmicas.
Mondrian busca a pureza da cor e simplicidade da forma pelas cores primárias.
Nas superfícies fechadas, o movimento se dá pelas margens. Por outro lado, em outros tipos de superfícies (abertas), pela articulação da área interior. Um exemplo é Mondrian, em “Pier and Ocean”.

Mondrian – “Pier and Ocean” (1914)

Planos superpostos, articulam superfícies superpostas com linhas. Na exploração cubista, vários planos distintos buscam reproduzir distintos ângulos e formas. Um exemplo é Pablo Picasso, com “Girl With a Mandolin”:

Pablo Picasso – “Girl With a Mandolin” (1910)

Articulam-se volumes por planos superpostos. Sempre encontramos linhas e superfícies, sendo que as primeiras estão na diagonal. A linha tem uma dimensão: a superfície duas. O volume tem altura, largura e profundidade.
Ver a obra de Leonardo da Vinci (Anunciação) que mostra os volumes e superfícies.

Leonardo da Vinci – “A Anunciação” (1474)

Os blocos, o muro, representem superfícies e as linhas diagonais mostram profundidade e densidade da matéria. Na pintura, a visão da profundidade é virtual, percebida pela ação das diagonais sobre as verticais.

Ver também: “Estudo da Adoração dos Magos”, de Leonardo da Vinci.


Quanto mais subdivisões e facetas, maior a sensação de densidade. Exemplo: um octógono, hexágono, em relação a um cubo.

As visões de espaço sempre se referem ao homem

Luz

Não confundamos o elementos natural luz com o contraste de claro e escuro. São manchas claras e escuras. A validade da luz é o claro e o escuro. O movimento visual deve acompanhar tais valores. Não é um movimento linear.
A parte clara direciona o meu olhar. Articulam uma vibração do olhar no espaço.
Um círculo claro sob um fundo branco supõe expansão. A cor clara dá impressão de espalhamento e o escuro recuo. O artista busca harmonizar isso com tons de cinza.
Ver Rembrandt em “Christ Healing The Sick”, que trata de Cristo curando os doentes.

Rembrandt – “Christ Healing the Sick” (1648)

O claro e o escuro pressupõem um embate.

A luz é um elemento formal que não privilegia a matéria. Mas pode mostrar profundidade, conforme a sua intensidade nas distâncias.

Ver Leonardo da Vinci em: “A Virgem das Rochas”.

A Virgem das Rochas
Leonardo da Vinci, 1495-1508/
primeira versão: 1483-1486
Óleo sobre painel
189,5 × 120 cm

Diferentemente dos volumes, a profundidade não aparece tridimensional. Inexiste uma relação entre o movimento da luz e o plano. Rembrandt é um grande mestre da luz.

Cor
É o elemento mais importante.
Relaciona-se com relacionamento. A cada país e contexto, a cor possui valores distintos.
Para quem trabalha com cores, elas isoladas não têm importância.
Picasso: velho guitarrista de Picasso, com suas diversas variantes tonais.

Pablo Picasso: “The Old Guitar Player” (1903-1904)

Do mais saturado para o menos saturado. Há uma relação de saturação e tonal.

Van Gogh, em seu auto-retrato, mostra bem as relações das cores primárias, mostrando um espaço bidimensional, com formas competindo entre si.
As cores secundárias fazem uma reunião entre as primárias. Isso fica muito evidente no quadro “The Night Café”, do próprio Van Gogh.

Seguem abaixo algumas obras de Van Gogh:

Van Gogh – “Self Portait With a Felt Hat”

Van Gogh – “Cafe Terrace on the Place du Forum”

Van Gogh – “The Church at Auvers sur Oise”

Van Gogh – “The Night Cafe”

Cores complementares
Elas induzem-se mutuamente. Dessa atração, há uma tensão em intervalos espaciais. Exemplo: Rubens, em “The Artist and His First Wife”, com as pernas em tom laranja e azul em anteposição, porém em uma reunião, ajudada pela forma circular das personagens do quadro.


Rubens – “Artist & Wife”


Até a próxima postagem, pessoal. Espero que achem proveitosas as anotações.

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