Falta de Razão e Insensibilidade... (Parafraseando O Livro) - Caso "O Boticário"

Bom dia a todos.
 
Um dos grandes fóruns de debates atuais diz respeito à campanha publicitária de "O Boticário", para o Dia dos Namorados, onde, de uma forma surpreendente e pouco afeita aos padrões ditos "normais" à época, mostra-se a iniciativa de três casais em presentear seus pares com um produto da marca.
Ocorre que os três casais, dentro do que se espera, não são os ditos casais "convencionais" (homem e mulher), mas sim, um heterossexual e outros dois homossexuais, o que causou uma polêmica muito grande, a ponto de pleitear-se tirar do ar o comercial, por um encaminhamento de queixa junto ao CONAR (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária).


A justificativa de "O Boticário" para a veiculação do comercial, é a seguinte: "O Boticário esclarece que acredita na beleza das relações, presente em toda sua comunicação. A proposta da campanha “Casais”, que estreou na TV aberta no dia 24 de maio, é abordar, com respeito e sensibilidade, a ressonância atual sobre as mais diferentes formas de amor - independentemente de idade, raça, gênero ou orientação sexual - representadas pelo prazer em presentear a pessoa amada no Dia dos Namorados. O Boticário reitera, ainda, que valoriza a tolerância e respeita a diversidade de escolhas e pontos de vista.” 
Talvez exatamente, de certa forma, seja este o problema que o mundo vem passando: precisamos "tolerar" demais determinados tipos de manifestações, ao passo que elas poderiam ser encaradas de uma maneira mais corriqueira e normal, pois as pessoas deveriam ser respeitadas pela sua integridade e caráter e não pela sua opção sexual. "Tolerar" (e isso me faz lembrar um debate ocorrido em ambiente acadêmico, com colegas de classe), é algo muito impositivo, mas infelizmente real, dentro da sociedade controversa e hipócrita até mesmo, que vivemos.
Não que a explanação de "O Boticário" esteja incorreta: foi muito bem pontuada, no sentido de valorizar a essência do amor entre as pessoas, substantivo que está se tornando, a cada dia, muito mais abstrato e muito menos real no planeta. A questão que abordo aqui é que, se nós encarássemos os relacionamentos mais na base do respeito e da normalidade, se encarássemos o fato de um ser muçulmano e outro cristão, um ser negro e outro branco, um ser corinthiano e outro palmeirense, dentre outros exemplos, de maneira natural, não vinculando isso a uma falha de caráter, a "tolerância", no sentido de deixar passar, mas por outro lado ficar, intimamente propalando uma saraivada de críticas ao diferente e ao incorreto (dentro do nosso conceito), não seria necessária em nosso mundo.
Claramente que, no chamado "estado democrático de direito" que vivemos, a liberdade de expressão é um direito inabalável. Em nossa Carta Magna (Constituição), em seu artigo 5º, isto está explicitamente expresso:
 
"Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;"
 
Abro este preâmbulo por conta da análise de um vídeo veiculado pelo Pr. Silas Malafaia, recomendando a seus seguidores que não comprem artigos da marca, por conta do comercial veiculado. O vídeo encontra-se logo abaixo:
 
 
Talvez este seja o único ponto que concorde com o referido pastor, pois a livre manifestação é direito nosso. Mas veja que, o artigo 5º informa que "todos são iguais perante a lei", ou seja, independentemente da sua opção sexual e desde que não ajam de maneira que subverta a lei vigente, têm seus direitos preservados. Ou seja, ser gay ou não ser, não determina o caráter de alguém, mas sim sua postura perante a sociedade.
Analisando alguns argumentos que ele expõe durante o vídeo, podemos dizer o seguinte:
1. "Existe uma gama de empresas agora fazendo propaganda da relação gay": a propaganda em si, de "O Boticário", não incentiva ou deixa de incentivar, não analisa ou deixa de analisar, não relativiza ou deixa de relativizar, comportamento ALGUM. Apenas prega o amor, associado a uma data comemorativa, expandindo a sua atuação para segmentos da sociedade que geralmente não estão presentes em outros comerciais. Agora, remetendo à nossa história mais recente, podemos tomar como base a II Guerra Mundial, onde a propaganda nazista por exemplo, expressava seu autêntico ódio às ditas minorias, a ponto de dizer que "negros escurecem nossa sociedade"...
 
 
O que mais tarde veio acentuar-se com o Apartheid na África do Sul, por exemplo...
2. "Eu tenho o direito de preservar macho e fêmea": então pressupõe-se que a veiculação de um comercial que não propaga a violência, que não prega desrespeito algum, que faz associação a uma data vinculada ao amor, carinho e respeito (além a alegria), pode desintegrar o padrão estabelecido da sociedade, de "macho e fêmea"? Interessante... Mas as pessoas não têm o direito de ser preservadas, seja em qual condição for? Não tem o seu inalienável direito de ir e vir, de expressar-se, de manifestar-se, desde que não subvertam a lei e causem mal às outras pessoas? Em qual momento do comercial isso ocorreu? Eu, particularmente, não percebi...
3. "Colocando um novo paradigma na sociedade": um conceito interessante de paradigma, foi extraído a partir de uma pesquisa rápida na internet, "Paradigma é um termo com origem no grego “paradeigma” que significa modelo, padrão. No sentido lato corresponde a algo que vai servir de modelo ou exemplo a ser seguido em determinada situação. São as normas orientadoras de um grupo que estabelecem limites e que determinam como um indivíduo deve agir dentro desses limites." (fonte: http://www.significados.com.br/paradigma/)
O comercial não tem objetivo de doutrinar alguém ou inserir na cabeça de qualquer indivíduo, o chamado "gene gay": apenas cumpre um propósito, como já dito, de exaltar uma data comemorativa e estabelecer o princípio de igualdade entre as pessoas, seja qual for a sua condição sexual. Agora, é interessante analisar que o paradigma do Brasil, ou seja, o modelo ou padrão, há 500 anos, desde o descobrimento, é achar anormal as pessoas viverem de maneira normal. Uma das bases mais importantes que poderia modificar o atual estado de calamidade que vivemos, seria mudar o paradigma do "normal" da sociedade brasileira, que é uma classe política que explora seus cidadãos e não faz jus ao que eles esperam: legislar em prol do coletivo. Que tal se mudássemos o paradigma verdadeiro para um país justo e de real IGUALDADE, conceito este que poderia sim estabelecer a paz e a justiça ao nosso país? Vide a Suécia... (veja vídeo abaixo).
 
 
4. "As pessoas de bem, que não concordam com essa promoção de homossexualismo...": para começar, homossexuais não podem ser pessoas de bem? A frase acima pressupõe que esta condição (assim como no nazismo) é uma anomalia, um caminho para o mal. E, como já dito, o comercial não visa PROMOVER comportamento algum, apenas expressar o conceito de uma data comemorativa vinculada ao amor.
5. "Vai vender perfume para gay (beira o hilário")": os produtos são vendidos para CONSUMIDORES, seja qual for sua orientação sexual.
6.   "Eu não estou aqui para impedir alguém de ser homossexual, não...": o discurso no vídeo, até então, nos leva a ter outra ideia, de que o homossexual tem que ser segregado, que por não pertencer à dita "maioria" e por estar "promovendo" um comportamento incorreto, deve ser impedido, inclusive em sua manifestação.
7. "Deus abençoe a todos": todos, incluem quaisquer pessoas, inclusive os homossexuais, certo?
Enfim, o mundo pouco se preocupa em EFETIVAMENTE promover o bem-estar das pessoas, principalmente as menos favorecidas, e eternamente, em nome de interesses excusos e imbecis, como corrida armamentista (lembra da polaridade entre a antiga URSS x EUA na guerra fria?), colonialismo (principalmente na África), dinheiro (corrida pelos diamantes em países da África, onde etnias diferentes, como hutus e tutsis, são exterminadas pela guerra), deixa seus cidadãos à mercê da própria sorte.
Infelizmente, interpretações e mentes tacanhas estão e estarão sempre presentes em nosso mundo e dificilmente modificarão seus pontos de vista. O contraditório, com certeza, é permitido, é até um outro princípio do Direito. De acordo com o artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal, "aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes". Você, se se sente ferido em sua honra e princípios, se é acusado, pode defender-se, porém contra fatos não há argumentos e determinadas posições, em nome da boa convivência devem ser expressas, principalmente quando não há fatos que EXPLICITAMENTE infrinjam a lei.
Ótimo feriado a todos!
 
 
 
 
 

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