Resenha Literária - "Vidas Secas" (Graciliano Ramos)
A caracterização do Nordeste brasileiro, como a região das terras áridas e das dificuldades do agricultor em cultivar suas terras no sertão, é o mote de "Vidas Secas", livro de Graciliano Ramos. A dramaticidade desta situação de extrema pobreza perdura até hoje no Brasil, porém é claro, adaptada ao contexto histórico vivido atualmente, no qual também o fenômeno das chuvas fortes e sua consequente enchente e desabrigados, mostra esta faceta vulnerável de nossa população.
Porém, o primeiro aspecto que me chamou atenção na obra foi a quantidade de termos do vocabulário desconhecidos por mim até então, demonstrando a riqueza do regionalismo presente Como exemplos, temos as palavras "jirau" (espécie de armação de madeira), "tropel" (tumulto), "aió" (afirmar), dentre outras, as quais, dependendo da sequência e contexto em que são apresentadas, tornam a interpretação da leitura mais trabalhosa.
À leitura de muita gente, à percepção de outros leitores, a intensidade dramática do livro é contínua, mas (e isso pode soar polêmico a outros) no percorrer das 96 páginas (Editora Principis) considerei como realmente tocantes duas passagens da obra, uma ligada à personagem central da trama, a cachorrinha Baleia, e outra ligada ao sertanejo Fabiano, chefe da família destes retirantes. Quanto à primeira, tal como muitos de nós assim consideramos, ela carrega em si mais humanidade do que os humanos e transparece isso não apenas pela sua condição física deteriorada devido à fome, mas também pela percepção da aridez comportamental de seu dono, especialmente em um momento chave da trama. Já referente a Fabiano, quando compartilha seus pensamentos a respeito de possíveis bastiões de esperança que podem surgir durante a sua saga.
Mas nada, enfatizo: em minha ótica, não configura-se em um livro extremamente cativante à medida que sua leitura vai avançando. Demonstra as situações, a rudeza nos comportamentos do protagonista, a passividade de sinhá Vitória e das crianças em relação a ele e claramente derivado disso tudo, uma tristeza e um torpor, face a quase impossibilidade de se alterar aquele estado de coisas.
Porém, ao levar-se em consideração o aspecto da relevância de Graciliano Ramos e suas obras, Vidas Secas é um título indispensável para fazer parte do repertório dos amantes dos livros. Como apregoa o ditado popular: "cada cabeça, uma sentença" e apesar de não ter manifestado uma expressiva predileção pelo título, recomendo sua leitura e até mesmo releitura para confronto das visões que vierem a ser construídas em cada uma das ocasiões.
Até a próxima postagem, pessoal!

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